Educador, escritor e consultor, Reinaldo Bulgarelli é uma referência na promoção da pauta LGBTI+ nas empresas. A partir da atuação da Txai Consultoria e Educação, da qual é sócio-diretor, o executivo acumula uma história de sucesso facilitando a articulação de temas relacionados a direitos humanos, sustentabilidade, diversidade, equidade e inclusão junto a grandes corporações. Foi a partir desta atuação, inclusive, que em 2013, junto ao ativista pelos direitos LGBTI+, Beto de Jesus, que articulou a criação do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, movimento empresarial com atuação permanente, que reúne grandes empresas em torno de 10 Compromissos com a promoção dos direitos humanos LGBTI+.
Nesta entevista, em celebração ao Dia Internacional do Orgulho LGBT+, Bulgarelli fala sobre sua trajetória profissional e destaca o valor da promoção dos direitos humanos LGBTI+ no ambiente empresarial e na sociedade.
Reinaldo, você é uma grande referência no Brasil na luta por direitos das pessoas LGBT+. Poderia nos contar o que te inspirou a representar o coletivo?
Eu me engajei nos movimentos sociais muito cedo, em 1978, momento em que estávamos lutando contra a ditadura militar e ao mesmo tempo dizendo que a democracia que buscávamos seria melhor se considerasse as pessoas negras, pessoas LGBTI+, mulheres, pessoas com deficiência, a infância, a juventude, enfim, a nossa diversidade. Gosto de lembrar que a riqueza da diversidade me encantou e por isso trabalho com esse tema há tantos anos. Por ser uma pessoa LGBTI+, o gosto é ainda maior por querer contribuir nos avanços em relação aos direitos humanos destas pessoas.
Em 2013 nasceu o Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, o qual você é Secretário Executivo. Poderia nos explicar um pouco sobre a missão do Fórum e suas principais atividades?
O Fórum é de empresas e, de propósito, reunimos as grandes empresas que inicialmente já atuavam no tema dos direitos LGBTI+. As grandes marcas têm mais influência no ambiente de negócios do país e na sociedade, podendo trabalhar também a sua cadeia de valor, o que envolve as empresas de outros portes. Ele se articula em torno de 10 Compromissos com o respeito e a promoção dos direitos humanos de pessoas LGBTI+ na relação da empresa com seus stakeholders. Definiu como missão colocar em prática para as pessoas LGBTI+ o que está no artigo 1º de Declaração Universal dos Direitos Humanos: Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos.
"o mundo é e será ainda melhor com a nossa participação plena"
Em 2023 o Fórum completou 10 anos, o que você acha que mudou na sociedade para as pessoas LGBT+ nesse período, e o que ainda precisa ser mudado?
Já estávamos inserindo o tema da diversidade sexual e de gênero na agenda de sustentabilidade e o Fórum ajudou muito a concretizar isso com os 10 Compromissos e o movimento em torno deles. Também vemos agora o mundo empresarial se colocando na sociedade, falando do tema por meio de suas marcas, lideranças, sempre com ações efetivas para servir de referência. Um grande avanço que o Fórum ajudou a gerar foi em relação às pessoas trans. O mercado de trabalho mudou sua postura e está influenciando toda a cadeia de valor para dar conta da inclusão, por exemplo, nos processos internos e também na relação com planos de saúde e outros benefícios. Junto com a TransEmpregos, as empresas puderam perceber que são parte do problema na exclusão de pessoas trans, mas que podem e devem ser parte da solução.
O Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+ faz uma articulação muito importante com as organizações privadas. Como você vê a inserção das pessoas LGBT+ no âmbito corporativo hoje? Você acha que as ações das empresas estão sendo efetivas, ou elas precisam melhorar em algo?
A melhoria deve ser contínua para acompanhar os desafios e as demandas da sociedade civil organizada, fazer parte dela e dos avanços esperados na cultura do país e do mundo quando se trata do respeito e promoção dos direitos humanos de pessoas LGBTI+. Como eu disse, é a voz empresarial agora também se fazendo presente no tema e isso faz a diferença para uma comunidade que é vista como problema. O Fórum ajudou a entendermos que defender direitos LGBTI+ não é polêmico, não é sair do seu papel, porque é algo básico e essencial para termos um ambiente de negócios mais sustentável em uma sociedade sustentável. Precisamos avançar mais rápido, contudo, nesta articulação que o Fórum representa para atuar melhor no cenário público, junto ao Estado brasileiro.
O que o Dia Internacional do Orgulho LGBT+ representa para você, e como essa data deveria ser celebrada no Brasil, que é considerado um dos países mais LGBTfóbicos do mundo?
Eu gosto de lembrar que o dia do orgulho existe porque a vergonha nos foi imposta. Essa imposição da vergonha gera vulnerabilidade a todo tipo de violência, a começar dentro de casa, com uma autorização para humilhar, excluir, expulsar e até assassinar os próprios filhos. Como não prestar atenção nesta data e suas exigências para acolhermos a riqueza da diversidade sexual e de gênero frente a tanta violência? Quando criaram no Brasil as Paradas do Orgulho LGBTI+, nos anos 90, foi uma maneira de colocar na rua a nossa dor e também nossa energia, nossa forma cheia de cores, brilho e esperança de que o mundo é e será ainda melhor com a nossa participação plena.
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