Para a semana especial de dia dos pais entrevistamos os pais Bruno e Márcio, influenciadores no perfil @papais_a_bordo e ativistas da causa LGBTQIAPN+, também fundadores da Dilogia, Casa da Diversidade para refletirmos sobre os impactos da diversidade na educação dos filhos.
Como foi a experiência de decidir ter filhos e formar uma família enquanto casal LGBTQIAPN+?
A decisão foi muito repentina, sem muito planejamento, inclusive isso já reflete em como o planejamento familiar de pessoas LGBTQIAPN+ não acontece como em famílias tradicionais. Temos um modelo de família que tem suas particularidades por ser uma família homo parental, que se formou a partir de processos de adoção tardia e não havíamos imaginado que nossa família fosse assim.
Quais desafios específicos vocês enfrentaram ao longo do processo de formar uma família?
A falta de referência impacta muito, o modelo familiar comum geralmente é a família tradicional de comercial de margarina, isso é um dos grandes desafios em pensar numa estrutura fora desse padrão. Há também desafios externos associados em como a sociedade nos enxerga, certamente eu tenho que afirmar recorrentemente a existência da minha família, afirmar: Sim, é meu marido, sim são meus filhos. A sociedade não compreende nosso modelo familiar à primeira vista, e gera muitos questionamentos, justamente pela falta de referências de outras composições familiares.
De que forma a identidade LGBTQIAPN+ de vocês influencia o ambiente familiar e a educação dos filhos?
Influência totalmente, se você expressa a sua identidade acaba incluindo suas características, visão de mundo e isso acaba refletindo nos nossos filhos. Poder dialogar sobre identidade e sexualidade não deveria estar vinculado ao fato de sermos um casal homoafetivo, essa é uma conversa necessária para todas as famílias.
Bruno afirma que sempre houve suposição que seria um homem hétero, nunca foi dada a possibilidade de refletir sobre sexualidade e isso é muito crítico. Márcio, afirma que embora tenha tido uma referência familiar, também não tinha espaço para falar sobre isso.
Como vocês abordam o tema da diversidade e da inclusão dentro de casa?
O que a sociedade chama de diversidade, nós chamamos de vida. Então, a pauta da diversidade, equidade e inclusão está naturalmente em nossos diálogos e rotina.
Vocês percebem que seus filhos enfrentam desafios ou preconceitos por terem pais LGBTQIAPN+? Como lidam com isso?
Na adoção da Débora, na época com 17 anos, já tinha uma percepção sobre o assunto e amigos LBGT+, então nunca entendemos como um desafio especificamente da paternidade com ela. Com o Wesley que era uma criança, acreditamos que ele tenha enfrentado mais o dilema de apresentar os pais homoafetivos... como faz isso? O que vão pensar? Ele vai conhecer novos amigos e precisará, em algum momento, contar que ele tem dois pais. Os preconceitos hoje em dia são velados, mas ainda sentimos, já vivenciamos alguns casos. Por exemplo, o Wesley estudava em uma escola e tínhamos uma proximidade com algumas famílias, em determinado momento acabamos sabendo que eles fariam uma viagem e não fomos chamados pela questão da sexualidade.
Que tipo de rede de apoio vocês consideram fundamental para pais LGBTQIAPN+?
Poder conviver com outras famílias homoafetivas, seria um privilégio e acreditamos ser uma forte rede de apoio, existem grupos mas ainda não é expressivo em números.
A rede de apoio familiar é extremamente importante desde o início como formação de indivíduo, principalmente pelos desafios da parentalidade. Também julgamos importante na convivência familiar a criação de laços e vínculos. Ter a família como rede de apoio também é contar com referências na criação dos filhos.
Vocês sentem que a sociedade está mais aberta e receptiva à diversidade familiar? Quais mudanças ainda precisam ocorrer?
Sim, está mais receptiva. Mudaria o processo de naturalização, na sociedade você é sempre visto como diferente, naturalizar modelos diversos de composição familiar é necessário, afinal as dinâmicas são as mesmas, as obrigações com rotina e cuidados são semelhantes.
Que conselhos dariam para outros casais LGBTQIAPN+ que estão pensando em ter filhos?
Primeiro, tem uma responsabilidade enorme e as coisas não vão ser fáceis, mas vale a pena. Não permita que a sociedade prive aquilo que você tem vontade, quem decide se você vai ser pai ou mãe é você, não outrem. Isso vale para tantas coisas, como por exemplo para mulheres que não querem ter filhos e são constantemente questionadas e pressionadas.
Como vocês acreditam que o fato de integrar uma família diversa impacta a visão de mundo e o desenvolvimento dos seus filhos?
Há um privilégio de acessar e discutir determinados assuntos, não só sobre sexualidade que é algo que pauta nossa existência, mas também sobre sexismo envolvido na construção de nossa sociedade, sobre questões raciais. O fato de sermos uma família com atenção à diversidade, permite que a gente coloque determinados assuntos em pauta que boa parte das famílias não põem, isso torna nossos filhos melhores pessoas para o mundo, mais abertas, mais tolerantes e respeitosas.
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