Comunicação Não Violenta para promover Diversidade e Inclusão
- 30 de out. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 2 de nov. de 2024
Rodrigo Bueno explica como gestores podem resolver conflitos, fortalecer suas equipes e criar um contexto de diversidade, equidade e inclusão a partir da Comunicação Não Violenta.
No universo corporativo e nas relações pessoais, a habilidade de se comunicar de maneira empática e construtiva é essencial para criar ambientes mais harmoniosos e colaborativos. Conversamos com Rodrigo Bueno, especialista em Comunicação Não Violenta (CNV), sobre como essa prática pode transformar relações, resolver conflitos e incentivar uma cultura de respeito e entendimento mútuo, fundamentais para promover diversidade, equidade e inclusão. Rodrigo compartilha insights práticos e exemplos sobre como aplicar os princípios da CNV no dia a dia e construir uma comunicação mais humana e efetiva em todos os contextos.

Como a Comunicação Não Violenta pode ser uma ferramenta eficaz na gestão de conflitos dentro de equipes de trabalho?
Rodrigo Bueno: Para entender a mediação de conflitos pela Comunicação Não Violenta (CNV), é essencial perceber o que está por trás das mensagens em um conflito. Muitas vezes, as pessoas não têm clareza sobre suas reais necessidades e acabam projetando questões externas na relação. A CNV busca identificar o que realmente importa: qual a necessidade real naquele momento? Pode ser reconhecimento, valorização ou outras demandas que se expressam de forma confusa e até violenta.
Desarmamos o conflito quando cada parte consegue nomear suas próprias necessidades: "Isso é importante para mim." Quando isso ocorre, projeções e agressividade são desmontadas, abrindo espaço para diálogo e criatividade, permitindo a colaboração entre as partes para resolver as necessidades. O que separa as pessoas, em geral, são as estratégias usadas para lidar com essas necessidades.
A CNV é mais eficaz que outras técnicas de mediação, pois foca nas necessidades subjacentes ao conflito, não apenas no conflito em si. Ela oferece uma abordagem poderosa e prática, que todas as lideranças deveriam aprender para resolver conflitos no ambiente de trabalho.
Quais são os maiores desafios que líderes enfrentam ao tentar aplicar a Comunicação Não Violenta em ambientes corporativos?
Rodrigo Bueno: A resposta pode ser dividida em duas partes. Primeiro, no aspecto interno, as pessoas em posição de liderança começam a lidar com sentimentos difíceis, pois geralmente aprendemos a evitar certos sentimentos. A Comunicação Não Violenta (CNV) propõe que aprendamos com todos eles, sem classificá-los como bons ou ruins.
Já trabalhei com lideranças que, ao adotarem a CNV, perceberam mudanças necessárias que não haviam notado antes. Elas começam a se questionar sobre por que não adotaram práticas mais eficazes anteriormente. O importante nesse processo é a autocompaixão, entendendo que os aprendizados vêm com o tempo e sem cobranças excessivas.
A segunda parte diz respeito à prática profissional e à relação com a empresa e as equipes. Incorporando a CNV, tornamo-nos mais assertivas, sem precisar adotar papéis de heroísmo ou vitimização. Ao sermos vulneráveis, as dinâmicas das equipes mudam, e, dependendo da posição, até a cultura da empresa é impactada.
A CNV ajuda a desconstruir papéis sociais adoecidos, como o de líderes que criticam constantemente ou salvam as pessoas, sobrecarregando-se. Esses papéis, exercidos inconscientemente, geram conflitos e desgaste nas relações. A CNV propõe que sejamos assertivas em vez de vilãs, empáticas em vez de heróicas, e vulneráveis, sem vitimização. Isso traz um enorme benefício, mas exige adaptação.
Como a CNV pode ajudar líderes a criarem um ambiente de trabalho mais colaborativo e produtivo?
Rodrigo Bueno: Quando bem aplicada por lideranças, facilita a entrega de feedbacks claros e construtivos. Nesse processo, as necessidades da empresa são colocadas de forma transparente, ao mesmo tempo em que o diálogo é aberto para que a pessoa colaboradora também expresse suas próprias necessidades.
Com a Comunicação Não Violenta, a liderança consegue identificar essas necessidades e buscar maneiras de incorporá-las nos processos, de forma que beneficie tanto a pessoa quanto a empresa. Isso é muito mais eficaz do que feedbacks confusos, reativos ou obrigatórios, que não tratam de necessidades reais e são dados apenas em momentos de crise ou para atender exigências de RH.
A CNV promove um ambiente de trabalho mais colaborativo e produtivo, pois possibilita feedbacks mais assertivos, realistas e focados tanto nas pessoas quanto nos processos.
Quais técnicas da Comunicação Não Violenta podem ser aplicadas por líderes para desescalar situações de crise ou tensão entre funcionários?
Rodrigo Bueno: Essa pergunta é muito relevante, pois é importante entender que conflitos não são necessariamente negativos. Eles podem se tornar prejudiciais quando evoluem para a violência, que ocorre quando uma pessoa tenta silenciar, submeter ou provocar medo, culpa ou vergonha em outra. Se um conflito é dominado por essas emoções, ele precisa ser interrompido. No entanto, quando o conflito é apenas uma divergência de ideias, ele pode ser saudável e produtivo para o ambiente de trabalho.
A principal técnica da CNV é reconhecer quando o conflito está escalando para a violência e intervir nesse momento. A violência se manifesta quando as pessoas param de se expressar por medo, agem de forma diferente por culpa ou sentem vergonha. Nessa situação, a liderança precisa desarmar esses sentimentos.
Um exemplo prático: imagine que uma situação fugiu do controle no time. Em vez de usar uma abordagem baseada em medo, culpa ou vergonha, que pode funcionar a curto prazo, mas gera desmotivação e fofoca a longo prazo, a liderança deve focar na assertividade e na exposição clara do problema. Ao invés de manipular, e gestão pode envolver a equipe na solução, discutindo atitudes e comportamentos necessários para resolver o conflito, sem culpar ou envergonhar ninguém.
Como líderes podem identificar e evitar manipulações disfarçadas de Comunicação Não Violenta dentro de suas equipes?
Rodrigo Bueno: A Comunicação Não Violenta (CNV) pode ser usada de forma manipuladora quando focamos apenas na técnica, sem considerar a mensagem em si. Algumas pessoas aprendem a falar de forma educada e simpática, mas continuam gerando medo, culpa ou vergonha nas suas equipes, criando confusão e desconforto. Isso acontece quando a liderança usa um tom passivo-agressivo, fazendo críticas veladas ou minando a confiança de alguém, mas de um jeito "ameno".
Para evitar esse tipo de manipulação, é importante que líderes foquem no conteúdo da mensagem, não apenas na forma. A verdadeira CNV não é sobre ser sempre calmo e simpático, mas sim sobre ser assertivo e transparente, sem recorrer a táticas que confundam ou desvalorizem os outros. A clareza é mais eficiente do que uma fala que tenta mascarar críticas com suavidade.
Em resumo, líderes precisam observar se estão realmente promovendo um diálogo honesto e direto, ou apenas utilizando a CNV como uma fachada para continuar com comportamentos que provocam medo e insegurança.
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